SÍMBOLOS E NOTAÇÕES
MATEMÁTICAS
Jacir J. Venturi
Em tempos do Biênio da Matemática no Brasil, vivenciamos
importantes eventos relacionados à essa ciência – como a Olimpíada da
Matemática – e advirá, em 2018, o maior congresso mundial da área, a ser sediado
no Rio de Janeiro com mais de 6.000 participantes.
Nesse espírito de divulgação, incentivo e promoção à nível
nacional, oportuno é rememorarmos alguns aspectos históricos desta que já se
definiu como a “rainha e a serva de todas as ciências”. E os apanágios de sua
majestade são o rigor, a lógica, a harmonia e sua linguagem precisa, universal
e sincopada.
Sabemos que os gregos antigos promoveram um grande desenvolvimento
à Geometria Plana e Espacial, mas não dispunham de uma notação algébrica ou de
simbologia adequadas.
Até o século XVI, toda a expressão matemática se fazia de uma
forma excessivamente “verbal ou retórica”. Por exemplo, em 1591, Viète para
representar a equação quadrática 5A2 + 9A - 5 = 0, escrevia em bom
latim: 5 in A quad. et 9 in A planu minus
5 aequatur 0. (5 em A quadrado e 9 em A plano menos 5 é igual a zero).
Além
da prolixidade de comunicação entre os matemáticos, havia outras dificuldades,
pois utilizavam-se notações diferentes para indicar as mesmas coisas.
O maior responsável por uma notação matemática
mais consistente e utilizada até hoje foi Leonhard Euler (1707-1783).
Recordemos as principais: f(x)
(para indicar função de x);
(somatória, provém da
letra grega sigma, que corresponde ao
nosso S); i (unidade imaginária,
igual a
); e (base do
logaritmo neperiano e igual a 2,7182...); log x (para indicar o
logaritmo decimal de x); as letras minúsculas a, b, c para indicarem os lados de um
triângulo e as letras maiúsculas A, B, C
para os ângulos opostos. A letra
= 3,1415..., que havia
sido utilizada por William Jones em 1706, teve o uso consagrado por Euler.



Este nasceu em Basileia, Suíça, e recebeu
educação bastante eclética: Matemática, Medicina, Teologia, Física, Astronomia
e Línguas Ocidentais e Orientais. Foi aluno de Jean Bernoulli e amigo de seus
filhos Nicolaus e Daniel.
Extremamente profícuo, insuperável em produção matemática, Euler
escrevia uma média de 800 páginas por ano e publicou mais de 500 livros e
artigos. Em plena atividade intelectual, morreu aos 76 anos, sendo que os
últimos 17 anos passou em total cegueira (consequência de catarata). Mesmo
assim continuou ditando aos seus filhos (eram 13).
Euler se ocupou com praticamente todos os ramos então conhecidos
da Matemática, a ponto de merecer do francês François Arago o seguinte
comentário: “Euler calculava sem qualquer esforço aparente como os homens
respiram e as águias se sustentam no ar.”
Em 1748, publica sua principal obra com o título latino: Introductio in Analysis infinitorum (Introdução à Análise Infinita),
considerada um dos marcos mais importantes da análise como disciplina
sistematizada. Destarte, Euler recebeu a alcunha de “Análise Encarnada”.
A implementação dos símbolos mais
adequados foi acontecendo naturalmente ao longo das décadas ou dos séculos, sob
a égide da praticidade e do pragmatismo. É evidente, porém, que pouco se pode
afirmar com precisão nesta evolução. Alguns exemplos:
SÍMBOLO
DE +: O primeiro a empregar o símbolo de + para a adição em expressões
aritméticas e algébricas foi o holandês V. Hoecke em 1514. Há historiadores,
porém, que creditam tal mérito a Stifel (1486-1567).
Uma explicação razoável é que até então, a adição de dois números,
por exemplo 3 + 2, era representada por 3 et 2. Com o passar dos anos, a
conjunção latina et (que significa e) foi sincopada para “t”, donde se
originou o sinal de +.
SÍMBOLO
DE ― : Pode ter sido fruto
da evolução abaixo exposta, conforme se observa nos escritos dos matemáticos
italianos da Renascença:
1.º) 5
minus 2 = 3 (minus em latim significa
menos)



SÍMBOLOS
DA MULTIPLICAÇÃO: O símbolo de x em a x b
para indicar a multiplicação foi proposto pelo inglês William Oughthed
(1574-1660). É provável que seja originário de uma alteração do símbolo de +. O
ponto em a . b foi introduzido por Leibniz (1646-1716).
SÍMBOLOS
DA DIVISÃO: Fibonacci (séc. XII) emprega a notação:
ou a/b, já conhecidas dos árabes.

A notação a : b é devida a Leibniz em
1648. Já o inglês J. H. Rahn (1622-1676) emprega a notação a ÷ b.
SÍMBOLO
: É a inicial da
palavra grega
, que significa circunferência.
Sabemos que
= 3,1415926535... é um
número irracional e é a razão entre o comprimento da circunferência pelo seu
diâmetro.



O aparecimento do símbolo
só aconteceu em 1706 e
deve-se a Willian Jones, um amigo de Newton. No entanto, a consagração do uso
do
deve-se ao matemático
suíço Leonhard Euler (1707-1783).


Em 1873, como muito se discutia sobre a irracionalidade do
, o inglês W. Shanks calculou-o com 707 casas decimais. Os
cálculos eram laboriosos e feitos manualmente, e Shanks levou cerca de 5 anos
para efetuá-los.

SÍMBOLOS
DE
(RAIZ): Apareceu pela primeira vez na obra Die Coss (1525), do matemático alemão C. Rudolff. Este sugeria o símbolo
por sua semelhança com a primeira letra da palavra latina radix (raiz).

SÍMBOLO
DE = (IGUALDADE): Tudo indica que o sinal de igualdade (=) foi introduzido por Robert Recorde (~1557), pois nada é moare equalle a paire de paralleles (nada
é mais igual que um par de retas paralelas).
SÍMBOLOS
DE > OU <: O inglês Thomas Harriot (1560-1621) foi o introdutor dos símbolos
de > ou < para indicar maior ou menor, respectivamente. No entanto, os
símbolos
ou
surgiram mais tarde,
em 1734, com o francês Pierre Bouguer.


ALGARISMOS INDO-ARÁBICOS: A palavra algarismo
oriunda-se provavelmente do nome de um dos maiores algebristas árabes: Al-Khowarismi.
Este escreveu o livro que recebeu o título latino: De numero hindorum (sobre os números dos hindus).
Essa obra apresenta
a morfologia de números muito próxima dos símbolos: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9.
Tais símbolos haviam sido criados pelos hindus, mas dado ao grande sucesso da
obra em toda a Espanha, ficaram conhecidos como algarismos arábicos.
O
monge e matemático francês Gerbert d´Aurillac tomou conhecimento dos algarismos
indo-arábicos em Barcelona no ano de 980. No ano de 999, Gerbert foi eleito
Papa (com nome de Silvestre II) e promoveu a divulgação de tais algarismos.
O zero aparece pela
1.ª vez num manuscrito muçulmano do ano de 873. Pecando por entusiasmo e
exagero, um matemático afirmou: “o zero é a maior invenção da Matemática”. Ou
seria o maior algoz do aluno!?
ALGARISMOS ROMANOS: Estes por sua vez tiveram influência
dos etruscos. Pelos manuscritos da época, conclui-se que os algarismos romanos
se consolidaram pelo ano 30 d.C.
O símbolo I (que
representa o n.º 1) é uma das formas mais primitivas de se representar algo e
tem origem incerta. Já o X (que representa o n.º 10) decorre da palavra latina decussatio,
que significa cruzamento em forma de X.
O número 100, identificado pela letra C em algarismo romano, provém da inicial
latina centum (cem). O algarismo romano M decorre da palavra latina mille
(que significa 1.000).
Jacir J. Venturi, Coordenador da Universidade Positivo, é um dos Coordenadores da
Olimpíada da Matemática no Paraná e foi professor da UFPR e PUCPR.
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